6 de Agosto de 1976.
Um pequeno grupo de jovens acompanhando uma senhora reformada percorreram as ruas de Almada colando cartazes, incentivando as pessoas idosas a assistirem à reunião de reformados, que ía realizar-se nessa noite na Casa-Escola dos Bombeiros Voluntários de Almada. Mais de 40 pessoas estiveram presentes nessa reunião, concordando logo, com o que ouviram, ou seja, a criação de uma Associação de Reformados que defendesse os seus interesses.
Seis dos presentes prontificaram-se para colaborar na organização dessa associação, mas marcada a primeira reunião de trabalho só compareceram quatro, sendo destes, três senhoras.
No entanto, o entusiasmo ia aumentando e treze dias volvidos realizou-se um grande plenário onde estiveram cerca de 400 pessoas. Foi uma noite inesquecível. Desse plenário realizado na Incrível Almadense, saiu a primeira Comissão Administrativa da ARPCA – Associação de Reformados, Pensionistas e Idosos do Concelho de Almada, composta por dez elementos.
O que pretendiam então esses reformados?
1º – Legalizar a sua Associação;
2º – Apresentar ao Governo uma moção de sete pontos a fim de melhorar a situação dos reformados em geral;
3º – A criação de um Centro de Dia onde os reformados pudessem permanecer durante o dia com o bem estar necessário.
Para legalizar a Associação houve imensas dificuldades, visto tratar-se de uma associação de solidariedade e não haver leis que abrangessem este tipo de associação, pois só estavam previstas associações de beneficência e de socorros mútuos, e nós não éramos nem uma coisa nem outra. Mais de um ano os nossos Estatutos andaram de repartição em repartição entre Setúbal e Lisboa, até que foi criada uma lei que nos abrangeu tendo então sido aprovados oficialmente. Apesar disso ainda tiveram que ser alterados três vezes para estarem de acordo com as leis vigentes, que também se iam alterando.
Não tínhamos sede, mas reuníamo-nos na «Sala da Banda» da Incrível graciosamente cedida para esse fim, durante um ano. Aí recebíamos os sócios e reuníamo-nos uma vez por semana.
Para comunicar com a população idosa tínhamos um placard que colocávamos na Praça da Renovação durante o dia recolhendo-o à noite em casa de amigos. Foi um ano árduo, mas feito com muito boa vontade e grande amor ao próximo.
Entretanto, procurava-se obter uma casa ou terreno para a construção do Centro de Dia. As dificuldades foram muitas, quase dois anos se passaram para que a Câmara Municipal, cedesse o terreno para a construção, como para todo o equipamento.
Enquanto se construía o edifício íamos tomando conhecimento de normas a seguir após o Centro aberto.
Assistimos a sessões de esclarecimento sobre a problemática do idoso, alimentação racional, doenças mais frequentes nos idosos, etc.
Trabalhava-se muito. Dava-se a conhecer a nossa Associação promovendo inúmeras reuniões de reformados em todos os pontos principais do nosso concelho. Ajudávamos os reformados de outros concelhos incluindo Lisboa, a organizarem-se. Angariavam-se sócios, fazia-se a cobrança das suas quotas e acompanhava-se a construção passo a passo para que tudo ficasse bem.
Ao fim do primeiro ano já era impossível continuar na «Sala da Banda». Precisávamos mais espaço e ter onde guardar os materiais de trabalho e ficheiros.
Fomos então para uma sala alugada à Associação de Socorros Mútuos, onde estivemos até estar concluída a sede actual. Nessa altura recebemos a oferta da consócia Hortênsia Neves de Sousa do material necessário para se trabalhar: uma grande mesa, cadeiras, estantes e secretária metálica, ficheiros, etc.
À medida que o edifício crescia, crescia o número de sócios. Já havia então Corpos Directivos eleitos em Assembleia-geral. Para todas as Assembleias, colóquios e festas, a Incrível Almadense emprestou o seu Salão de Festas graciosamente.
Assim, se passaram três anos e em 2 de Setembro de 1979 inaugurou-se o primeiro Centro de Dia do País, com capacidade para cem utentes, tendo ainda possibilidade de ter mais cerca de cinquenta apenas para convívio. (retirado de registos documentais da Associação).
Actualmente, o Centro de Dia tem acordo com a Segurança Social, para 31 utentes, e em Apoio Domiciliário para 30 utentes a cinco dias (de segunda a sexta feira) e para 15 utentes aos sete dias (de segunda feira a domingo).
Com o evoluir das mentalidades, com o aparecimento de novas necessidades, com o crescente isolamento dos mais velhos e dependentes, é premente a inovação das respostas sociais, a imaginação na criação de novos serviços que satisfaçam as necessidades, que promovam a sua autonomia e a qualidade de vida.
Também urge a qualificação dos serviços prestados, através de normas cada vez mais exigentes, que visam a certificação da qualidade das Respostas Sociais.
Neste contexto a ARPCA está a tentar implementar o HACCP (Análise dos Perigos e Controlo dos Pontos Críticos), mas sentimos fortemente a necessidade de um outro espaço que nos permita avançar com novas respostas, com o alargamento do Serviço de Apoio Domiciliário, com o alargamento do horário do Centro de Dia para fornecimento de jantares e um acompanhamento mais completo aos nossos utentes mais sós, bem como o redimensionamento da nossa área de intervenção.